BALADAS DE INTERVENÇÃO
Introdução:
Com este trabalho eu pretendo mostrar uma das muitas maneiras do povo descontente de tanta ditadura e de tanto sofrimento conseguia dizer- ou melhor, cantar- os seus pensamentos: as baladas de intervenção.
Todas as baladas têm uma mensagem. E todas as mensagens têm um sentimento que nos foi roubado e que elas queriam devolver: a liberdade.
Todas nos falam dos tempos, não muito remotos, mas muito afastados em que éramos um povo livre e em que o pensar era apenas controlado por nós e nunca por outros: a democracia.
Todas transmitem um calor de esperança e todas traduzem o nosso pensamento aprisionado. Foi por isso que decidi fazer este trabalho: quero homenagear os que sofreram
os que lutaram
os que se foram
os que tudo pensaram e repensaram
os que tudo fizeram e refizeram
para hoje eu poder ser livre e me orgulhar de pertencer a um país como o meu: PORTUGAL.
Quem as cantava?
As baladas de intervenção surgiram em Portugal na década de 60.
Os mais conhecidos cantores que cantavam as baladas de intervenção são muito nossos conhecidos, e muitas vezes não sabemos quem foram, o que cantavam e, principalmente, o que fizeram e o que sofreram por dizerem os pensamentos de tudo e de todos sobre a liberdade.
Eles são Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho...
Quais eram?
Saudade Pedra e Espada
Escrevo saudade com o mesmo vento
Com que escrevo liberdade
Que numa e noutra sangra o pensamento
Lá onde a liberdade é uma saudade.
Saudade que já foi fraqueza
Em força e arma transformada
Minha festa por dentro da tristeza
Minha saudade feita pedra e espada.
Minha saudade que não és passado
Mas este tempo nunca navegada
De transformar saudade em liberdade
Lá onde a liberdade é um saudade.
António Correia de Oliveira
A noite dos poetas
Ó habitantes da terra e a água
Com os semblantes cheios de mágoa
Saltam depressa para a cidade
Com a promessa de liberdade.
Invadam tudo como pessoas
A cantar leoas de meter medo
O mundo pertence às cobras
Que trepam escadas no arvoredo
Haverá sinais no nevoeiro
Vinho, veneno e ansiedade
Só um barqueiro cantando breve
Muito sereno na tempestade.
E os poetas a delirar
Devoram lírios no meio do mar
Constróem barcas que o vento vira
Pesadas arcas e uma lira.
António Correia de Oliveira
Quatro Quadras Soltas
Eu vi quatro quadras soltas
À solta lá numa herdade
Amarrei-as com uma corda
E carreguei-as para a cidade.
Cheguei com elas a um largo
E logo ao largo se puseram
Foram ter com a família
E com os amigos que ainda o eram
Viram fados, viram viras
Viram canções de revolta
E encontraram bons amigos
Em mais uma quadra solta
Uma viu um livro chamado
«Este livro que vos deixo»
E reviu velhas amizades
Eram quadras do Aleixo:
Ó i ó ai, há já menos quem se encolha
Ó i ó ai, muita gente fala e canta
Ó i ó ai, já se vai soltando a rolha
Que nos tapava a garganta.
Respondeu-me: Com efeito
Nós temos aqui uma retida
Uma quadra sem papéis
Que encontramos na má vida.
Diz que é uma quadra oral
Sem identificação
E que uma quadra popular
Não precisa de cartão.
Se diz que pertence ao povo
O povo que venha cá
Que eu quero ver a licença
O registo e o alvará:
Ó i ó ai, quando se embebeda um pobre
Ó i ó ai, dizem, olha o borrachão
Ó i ó ai, quando se emborracha o rico
Acham graça ao figurão.
Fui com a quadra popular
Á procura da restante
Quando o polícia de longe
Disse: venha aqui num instante.
Ora bem, tinha marcado
Encontro com as quadras soltas
Pois sim, fiquei pendurado
Como um tolo ali às voltas.
Chegou uma e disse: Andei
A cumprimentar parentes
E eu aqui a enxotar moscas
Vocês são mesmo indecentes.
Respondeu-me: ó patrãozinho
Desculpe lá essa seca
Estive a beber um copito
Com uma quadra do Zeca:
Ó i ó ai, disse-me um dia um careca
Ó i ó ai, quando uma cabra tem sede
Ó i ó ai, corta-lhe logo a cabeça
Encosta-a bem à parede
Das restantes quadras soltas
Não tinha sequer notícia
Dirigi-me a uma esquadra
E descrevi-as a um polícia.
Temos aqui uma outra
Não sei se você conhece
Desrespeita autoridades
E diz o que lhe apetece.
Tem uma rima forçada
E palavras estrangeiras
E semeia a confusão
Entre as outras prisioneiras.
Se for sua leve-a já
Que é pior que erva daninha
Olhe bem para ela. É sua?
Olhei bem para ela: É minha.
Ó i ó ai, nós queremos é justiça
Ó i ó ai, e o dinheiro para o bife
Ó i ó ai, e não esta cóboiada
Em que é tudo do sherife.
Sérgio Godinho
Qualquer dia, qualquer dia!
No Inverno bato o queixo
Sem mantas na manhã fria
No Inverno bato o queixo
- Qualquer dia, qualquer dia!...
No inverno penso muito
Oh coisas que eu já via...
No Inverno penso muito
- Qualquer dia, qualquer dia!...
No Inverno ganhei ódio
(E juro que não o queria!)
No inverno ganhei ódio
- Qualquer dia, qualquer dia!...
Zeca Afonso
Conclusão:
Eu gostei muito de fazer este trabalho. Foi dos trabalhos que me deu mais gosto fazer. Tive muita pena de não poder passar para o papel a música, pois tenho em CD a maior parte das músicas e, embora muita gente pense que o que transmite a mensagem é a letra, eu ao ouvi-las senti que é a música que nos dá as mais diferentes sensações, mas todas muito ligadas a esta época de ditadura. Às vezes sentia tristeza, quase vontade de chorar; outras sentia revolta, sentia-me selvagem pronta para passar os maiores sacrifícios apenas para mudar a vida dos mais infelizes; e outras era a esperança, um arrepio na pele que faz sentir os ventos de mudança, mesmo que eles não estejam lá.
Para quem nunca as ouviu com a alma. Não digo ouvir com os ouvidos, mas com a alma, aconselho a que o façam, pois é a melhor maneira de sentirmos aquilo que outros sentiram naquela era longínqua da liberdade...
Bibliografia:
CDs:
Campolide Sérgio GodinhoCantaremos Adriano Correia de Oliveira
Livros: Manual de História e Geografia de Portugal Fátima Costa e António Marques, Porto Editora.
BEATRIZ ALMEIDA - 6º C
Nota- Podes ouvir algumas destas baladas na página dedicada ao 25 de Abril pela Universidade de Coimbra
© Isabel Malho
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Última modificação em 28-12-2005