O 25 de Abril de 1974

 

O 25 de abril de 1974 vivido pelo meu pai aos 14 anos.

No dia 25 de Abril, o meu pai estava num colégio interno.

Era uma quinta-feira, não chovia e a primeira aula era a de inglês. A professora, que era a única senhora naquele colégio de padres, transmitiu-nos que havia uma revolução. Não houve mais aulas naquele dia.

O Director do colégio, que era um padre muito próximo do Estado Novo, teve muitas dificuldades em explicar o que estava o que estava a acontecer. No dia a seguir começaram as lutas internas, para conquistar algumas liberdades, a primeira das quais foi não ter aulas ao sábado.

Duas ou três semanas depois, houve a primeira greve no colégio. Agora a luta era por comida decente. Essa conquista também foi conseguida; pôr a pé ás sete horas, tomar banho com água fria, uma missa ás sete e meia, tareias e réguadas dos professores, sete horas de aulas por dia, e em média duas horas de estudo obrigatório, acompanhado de um monitor a que se dava o nome de Prefeito, sempre acompanhado da vara para dar nas orelhas dos menos atentos.

Enquanto isto se passava no colégio, o 25 de Abril corria pelas ruas cheio de liberdade e alegria, os presos eram libertados e os inocentes eram presos. Finalmente a estratégia comunista estava em marcha, e éramos todos "miúdos" e não nos apercebíamos disso. O outro lado do 25 de abril estava a chegar. A liberdade que nós queríamos não foi a que nos deram. A democracia com que os nossos pais sonharam foi-nos negada e assim a ditadura dos padres ficou igual á ditadura dos comunistas. O meu pai que tinha visto Portugal de Londres, onde tinha vivido, voltou para lá de férias, onde assistiu á pior fase de Portugal, desde o Marquês de Pombal, segundo ele.

O pai diz que a moral desta história é simples: "Temos uma Grande Pátria herdada dos nossos egrégios avós", como diz o nosso hino.

Os anos passaram e pelo menos o 25 de Abril deu-nos a liberdade de dizer isto, e deu-nos ainda a alegria do futuro que o país tem: livre, democrático e moderno.

O pai diz ainda que espera viver o tempo suficiente para ver restaurada a identidade do país, repondo-se a educação e o respeito entre as pessoas mas sem a perda da liberdade individual da democracia e do progresso.

O meu pai acredita muito em Portugal.

 

Sofia - 6º D

 

 

© Isabel Malho

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Última modificação em 28-12-2005

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